Personalidade | Luciane Knorst

Drama social, Meninos do Parque é sucesso.

Por Dani Pessôa 

Somente através de muita leitura, forma-se um grande escritor. E para ser autor, é preciso adquirir ampla bagagem. Descrever a realidade com leveza, sentimentos com destreza e ideias; pondo-os no papel é um dom que foi concedido a Luciane Knorst, escritora de grande sucesso que apresenta ao mercado seu livro intitulado “Meninos do Parque”. Curtam agora uma super entrevista Cultural.

                                                           Imagem.: Capa Livro/Divulgação

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Show&Art.: Em qual fase da vida descobriu –se como escritora ? Ser uma leitora voraz, foi um grande motivo para esse insight ?

Luciane.: Olá Dani, descobri-me como escritora no dia em que fui apresentada ao primeiro livro, isso aos sete anos de idade, quando iniciei na escola primaria. Naquele dia o desejo de um dia poder contar ao mundo as minhas histórias, aflorou dentro do meu eu. Meus pais eram analfabetos e por esse motivo minha mãe sempre nos incentivou a estudar, ela desejava um futuro melhor para nós. Posso dizer que minha mãe até hoje depois de doze anos do seu falecimento ainda me orienta, inclusive na hora de escolher um bom livro para ler.

Show&Art.: Quais gêneros literários mais te inspiram ? Estes mesmos, motivam sua escrita e a criação de novas histórias?

Luciane.: Leio muito, e por incrível que pareça eu adoro os romances de Nicholas Sparks, Nora Roberts, Sara Gruen, Frances Mayes entre outros. Hoje estou lendo Jardim de Inverno da autora Kristin Hannah. Gênero que eu não escrevo, até tentei, mas sem sucesso. Acredito que cada escritor se identifica com o tema escolhido e como não sou nada romântica. Prefiro ler as histórias de amor de outros autores, mas escrever, escrevo sobre comportamento e sociedade. As histórias de amor que leio, são como uma terapia, sendo que enquanto leio desligo um pouco da realidade que vivo e sinto enquanto trabalho nos meus livros.

Livros que são condutores para levar aos meus leitores acontecimentos que eles desconhecem, mas que pode estar acontecendo com alguém bem próximo. Um exemplo são as dezenas de crianças que todos os dias simplesmente desaparecem. No livro falei sobre esse assunto. Assunto que apesar das leis de proteção a infância e a adolescência muitas vezes não recebem a devida importância pelas autoridades. Adoro crianças, e se pudesse levava todas as que estão em situação de risco para minha casa, mas infelizmente não posso, minha casa tem menos de 50 m2 . Então minha contribuição para melhorar a situação delas é chamando a atenção através dos livros. E são essas situações, são essas crianças que me inspiram, é por elas e a voz delas que eu desejo que seja ouvida.

No livro tenho uma frase que diz o seguinte:

“… A nós só eram oferecidos os restos e com os restos sobrevivemos, mas crescemos acreditando que fôssemos o resto da humanidade…”

Essa frase foi dita por um “trabalhador do tráfico” quando lhe perguntei sobre sua infância.

Show&Art.: A maioria de seus trabalhos, tem como característica descrever o que observa no cotidiano? Habitualmente como é dado seu processo de escrita; identifica-se com algum tema específico?

Luciane.: Sim, os acontecimentos cotidianos ajudam muito. O processo de escrita é longo e muitas vezes doloroso, sendo que vou atrás da história, e para ouvir algumas histórias, confesso que é preciso coragem. Muitas foram às vezes que voltei para casa chorando e pensando em desistir de escrever o livro “Meninos do Parque”. Mas como Deus é maravilhoso e sempre deixa um anjo ao nosso lado para nos incentivar e dar apoio. Meu filho foi esse anjo, vale lembrar que na época em que eu trabalhava no livro ele tinha apenas doze anos, mas sempre me ofereceu o colo e sempre me disse: – “Mãe o mundo precisa conhecer essa história, não desiste, faz isso pelos meninos e meninas que não tem uma mãe como eu tenho”.

Quanto ao tema, esse é totalmente comportamento e sociedade, mas sempre dou ênfase a infância. O intuito e meu objetivo maior é identificar problemas e com isso relatar, trazer ao conhecimento de todos para assim de alguma forma contribuir para o melhoramento do meio em que vivemos. Posso dizer que no livro escrevi as causas e também sou clara quanto falo das consequências.

“Viver e ser feliz é um direito de todos. Assim como é de todos, a responsabilidade de melhorar o ambiente que nos cerca.”

Show&Art.: Conte aos webleitores sobre a concepção literária de “Meninos do Parque”, seu mais atual livro lançado pela Chiado editora !

Luciane.: O livro nasceu por acaso, as vezes fico surpresa da forma com que as coisas acontecem na minha vida, mas fico feliz quando vejo que elas não aconteceram por acaso.

No fim do ano de 2012 eu estava em Porto Alegre, alimentando os pombos no parque da Redenção, um famoso parque da capital gaúcha. Nesse dia como de costume eu observava tudo o que se passava a minha volta. Até que em determinado momento algo me chamou a atenção quando olhei para baixo de uma árvore, vi um garoto de aproximadamente 12 anos deitado sobre alguns papelões. Como já passava do meio dia e deduzi que naquele dia ele ainda não tivesse se alimentado, comprei um sanduíche para ele e outro para mim, e segui até o jovem. Quando me aproximei ele acordou assustado. Logo me perguntou o que eu queria, então lhe disse que eu precisava de ajuda para conseguir comer dois sanduíches. Ele me olhou desconfiado, mas sorriu e me ofereceu um pedaço do papelão para que eu me sentasse.

Aceitei o convite e sentei ao seu lado e juntos comemos os sanduíches e dividimos um refrigerante. Enquanto estive com ele a minha intenção era de apenas proporcionar alguns minutos de bem estar a ele. Mas assim que ele devorou o sanduíche ele começou a me falar da sua vida. E em poucos minutos enquanto ele me contava sobre tudo o que passava, eu

podia sentir o frio da noite e a dor no estômago pela fome, assim como o medo e a rejeição que ele sentia.

Em outros momentos cheguei a questiona-lo, afinal, existem órgãos governamentais responsáveis por jovens como ele. Nesse momento ele riu pela segunda vez e me disse:

“Dona, a senhora só vê isso na televisão, com nós a situação é outra, quando passamos a viver na rua, ninguém quer saber os motivos, apenas ouvem o preconceito deles.”

Depois de mais algumas horas conversando com ele eu precisava voltar para casa, então me despedi do garoto e nunca mais o encontrei novamente, sonho e desejo um dia voltar a vê-lo, assim como rezo para que hoje ele esteja bem. Mas não sei não!

Naquele dia voltei para casa com tudo o que ele havia me falado “martelando” dentro da minha cabeça e mesmo que eu quisesse esquecer não conseguia, mas precisava voltar para minha rotina diária, meu trabalho, minha casa e meu filho. Não poderia jamais deixar que uma situação externa prejudicasse minha família, mas não poderia eu, me tornar mais uma pessoa que coloca toda a culpa no governo e simplesmente finge não saber de nada.

Foi então que escrevi em um bloco de anotações: “O menino do Parque”, escrevi para nunca me esquecer dele.

Dias se passaram e no inicio de janeiro de 2013, precisei viajar para São Paulo, e naquela viagem tudo aconteceu. Parecia que a história se repetia, no entanto não foi em um parque que encontrei um garoto, mas sim deitado embaixo de uma marquise. Podem me chamar de “maluca”, mas eu vi semelhança entre os dois garotos. Com isso repeti o mesmo gesto do que havia feito em Porto Alegre. E o garoto se sentiu seguro, afinal, para ele eu oferecia uma refeição e não apenas restos, como outros tantos ofereciam, ele então logo começou a me falar da sua vida.

Contudo o que estava acontecendo, decidi que se a história se repetia era porque realmente precisava se tornar pública. Nascia ali, na calçada de uma das ruas mais movimentadas de São Paulo, a história dos “Meninos do Parque”. Mas o que eu ainda não sabia é que na rua não existe segredo, e que além dos meninos muitas outras pessoas eu teria que conhecer e muitas outras histórias ouvir antes de concluir o livro, e para minha surpresa o mesmo descaso que os dois meninos, o de Porto Alegre e o de São Paulo sofriam, havia acontecido a algum tempo atrás com outros dois meninos. Os verdadeiros personagens do livro.

Hoje, enquanto respondo essa pergunta, recordo tudo e me pergunto:

– Como ainda estou viva? – Como pode não ter me acontecido nada de mal comigo enquanto incansável eu saía de casa sem dar explicações ou ao menos informações de onde iria para conseguir ouvir os relatos?

Penso que sei o motivo: Em nenhum momento eu ofereci risco, em nenhum momento eu julguei ou apontei um erro, o que me interessava não era se o que eles estavam fazendo era certo ou errado. Eu apenas queria entender quando foi que seus sonhos de criança foram destruídos e quem foi o assassino da sua infância.

Nunca cheguei com uma planilha e com um monte de perguntas, chegava até eles com um sanduíche e com o desejo de ouvir seus desabafos, e sempre os tratei com respeito. O mesmo respeito que eles aprenderam a ter comigo.

Show&Art.: Como se posiciona perante a preferência de pessoas que trocam livros, um rico material físico; pela praticidade da literatura na web? Acredita que há mercado para esses dois segmentos? A tecnologia tem trazido aliados ou efeitos negativos a este mercado?

Luciane.: Costumo dizer que o sol nasceu para todos, basta apenas, nós conquistarmos nosso lugar ao sol. A internet é uma ferramenta maravilhosa quando usada para o bem. E para nós escritores não é diferente, sendo que há quem goste de ler na web, mas existem também àqueles que assim como eu, são os apaixonados pelo cheiro do papel, e que ainda preferem o livro impresso.

Contudo a tecnologia não atrapalha, ela nos ajuda.

Temos a versão e-book do livro Meninos do Parque e garanto que os resultados são fantásticos, sendo que dessa forma ele encontra-se disponível para o mundo todo pelo site da editora Chiado e pelo Smashwords.

A querida Luciane Knorst deixa sua mensagem aos webleitores Show&Art.:

Peço para que todos que lerem essa mensagem, ao sair de casa olhe para uma criança que está na rua, brinque com ela, e se ela sente fome alimente-a, se ela sente frio agasalhe-a.

E se ela não sabe amar, ame-a! Desse modo e com você ela aprenderá a viver.

Lembrem-se sempre que: Onde nada há, muito se tem!

Um forte abraço de paz.